Governo gasta €1 milhão em evento "irrelevante", acusa Observatório Independente
O Observatório Técnico Independente que analisa os fogos em Portugal entregou ao Parlamento o relatório sobre o plano de gestão e combate a incêndios com duras críticas. E deixa o alerta: no futuro, os incêndios serão “cada vez mais intensos e de maiores dimensões”. Plano ignorou a questão das alterações climáticas e as corporações de bombeiros.
Ainda com os fogos de 2017 na memória, Portugal quer organizar já em 2023 uma conferência mundial dos incêndios rurais, "aproveitando a oportunidade para demonstrar os progressos no Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais" e para mostrar Portugal "como um país de referência no âmbito da gestão integrada dos incêndios rurais". A proposta vai custar um milhão de euros e consta no Programa Nacional de Ação, aprovado em Conselho de Ministros no final de maio. Este ponto é, aliás, alvo de críticas por parte do Observatório Técnico Independente (OIT) para análise, acompanhamento e avaliação dos incêndios florestais e rurais em Portugal, que entregou esta terça-feira no Parlamento o relatório sobre o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais e do seu Programa Nacional de Ação.
Alterações climáticas ignoradas
O objetivo do programa nacional de ação é criar mecanismo para evitar que tragédias como as que aconteceram em junho e outubro de 2017 se repitam. Mas há ainda muitas falhas, alertam os especialistas da área, sendo a maior o facto de ter sido ignorada a questão das alterações climáticas. Esta "constitui provavelmente a maior e mais grave omissão" neste plano.
Bombeiros esquecidos
Além das alterações climáticas, o papel dos bombeiros e associações humanitárias parece ter ficado também esquecido. Já em 2018, este Observatório alertou para a necessidade de reorganizar o setor, mas a recomendação não foi seguida. "Embora o PNA pareça desvalorizar estes agentes, é irrefutável que eles continuam a ser uma arma fundamental" no combate aos incêndios. E "não há qualquer orientação para responder à necessidade de requalificar o Programa de Sapadores Florestais".
Estrutura cada vez mais complexa
Em 2017, um dos problemas durante o combate aos incêndios foi a articulação entre as várias entidades. Depois disso, ficou evidente que o sistema teria de ser simplificado. Mas em 2021 isso ainda não aconteceu - há cada vez mais entidades envolvidas e mais divisão de competências, o que "poderá reduzir a eficácia e a eficiência da implementação" do sistema de gestão de fogos.
"Esta dispersão e a falta de uma estrutura unificada apenas dificulta a necessária flexibilidade operacional, pois toda a gestão de risco de desastres e catástrofes requer uma coordenação centralizada e hierarquizada e interinstitucional, algo que é ignorado", alerta o Observatório.
Entre as falhas apontadas, surge mencionada a "total incapacidade" que Portugal ainda mostra em relação à recuperação das áreas ardidas. É importante ter em conta que "o problema dos incêndios florestais e rurais em Portugal está longe de estar controlado" e poderá ter consequências graves devido às alterações climáticas. Segundo o Observatório Técnico Independente, "o sistema está ainda bastante incompleto".
Fonte: Sábado,Rita Pereira Carvalho, 21 de julho.
